domingo, 18 de novembro de 2012

A Canção de Débora - a força da poesia e sua aplicação

A história do livramento divino dos israelitas da opressão do rei Jabim e de seu comandante, Sísera, através de Débora e Baraque é registrado em dois capítulos: em prosa, Juízes 4, e em verso, Juízes 5.
Embora o texto de Juízes 4 seja mais claro e direto, o capítulo 5 revela as emoções envolvidas e detalhes do contexto geográfico e histórico do momento.

Juízes 5 se inicia com um louvor a Deus pela vitória (v. 2-5) e descreve a situação de desordem e opressão na terra antes da batalha (6-8).
São feitos elogios às tribos que participaram da batalha e reprovações àquelas que mostraram indecisão, desprezo ou covardia diante da necessidade das tribos envolvidas (14-17). 
Descreve-se a batalha (18-22), a morte de Sísera (24-27) e uma narrativa do que poderiam ter sido os momentos de ansiedade da mãe de Sísera pela demora do retorno de seu filho.

Nos versos 4 e 5, as referências a Seir, Edom, terremotos, remetem ao poderoso e carinhoso cuidado de Deus por Seu povo desde o êxodo.
Os tempos de paz e prosperidade na terra prometida fizeram que os israelitas se acomodassem e se identificassem com os maus costumes dos povos que deveriam ter expulsado de Canaã. Com isto, atraíram a disciplina divina levada a efeito pelo jugo canaanita. 
Os versos 6 a 8 descrevem como estava a terra logo antes da batalha: o estado de guerra e opressão tornava perigoso viajar pelas estradas de Canaã, fazendo cessar as caravanas. Os habitantes das aldeias não fortificadas as abandonaram. O ofício de ferreiro era dificultado ou proibido, impossibilitando que os hebreus tivessem lanças ou escudos.
Ao lembrar desta situação, o cântico convida os hebreus ("falai dos atos ... do Senhor", v.11) a reconhecer o livramento e paz vindas de Deus, de Quem vem se origina toda situação propícia para o bom desenvolvimento das atividades diárias.
Enquanto Zebulom, Naftali, Issacar, Efraim e Maquir (meia tribo oriental de Manassés) são elogiadas, as tribos de Rúben, Dã, Aser e Gade (ou Gileade) são especialmente repreendidas. Gade não se manifestou; Rúben demorou para entrar em consenso e reagir. Dã e Aser haviam tanto se identificado com as tribos comerciantes fenícias que perderam seu objetivo como povo. Em todas estas repreensões existem advertências quanto ao correto modo de viver os poucos anos que o Senhor nos dá sobre a terra, que deveriam exaltar o modo a justiça, amor e misericórdia de Deus;

Ao se reunir nas alturas (v. 18) do Monte Tabor, os israelitas puderam completar a destruição (19-22) realizada por Deus (Jz 4:15). A imagem das unhas dos cavalos se despedaçando (v. 22) revela o quadro de terror e confusão que levou os cavalos de Sísera a debandar pela planície do Quisom. 
O leito seco deste curto rio, que drena toda a chuva de uma ampla área montanhosa, revela-se especialmente perigosa para os exércitos que nele estão, principalmente se estão se locomovendo em carros puxados por cavalos, situação que é descrita no v. 21. Romanos, turcos e britânicos em épocas de guerra registraram como este terreno é traiçoeiro em épocas de fortes e repentinas chuvas, quando "o solo barrento se tornaria um pântano de lama pegajosa", CBASD, vol. 2, p. 346..

Em contraste com a apatia dos habitantes de Meroz, v. 23, cidade israelita de localização próxima à batalha, que poderiam ter evitado a fuga de muitos canaanitas, incluindo Sísera, Jael,da tribo dos queneus, da linhagem do sogro de Moisés, mostrou-se fiel. Apesar dos queneus serem aliados políticos dos canaanitas, a família de Heber e Jael, sua esposa, continuavam fiéis aos israelitas e tiveram, por isso, seu nome honrado por toda a eternidade na Escritura.

A descrição poética e fictícia da preocupante espera por parte da mãe de Sísera (v. 28-30) com relação à demora de seu filho mostra muito bem como os injustos sofrem em desesperança nos maus momentos. Mesmo os seus sábios conselheiros (v. 29) não possuem o alcance de visão do que o futuro aguarda, podendo apenas pressupor o futuro pelo passado.
A canção de Débora, acaba mostrando, em contraste com  os versos anteriores, o destino do justo à semelhança do brilho progressivo do sol na manhã (v. 31), linguagem também utilizada por Isaías (60:1), Daniel (13:3), Malaquias (4:2, cf. GC, 632), Jesus (Mt. 13:43), João (Ap. 7:2,3). 

O cântico encerra descrevendo os anos de paz que teve a terra. 
O CBASD, vol. 2, p. 346, faz uma belíssima e muito oportuna aplicação deste dos fatos deste última frase ao nosso tempo:
"Como teria sido conveniente se o povo, nesse período de sossego, tivesse andando no caminho do Senhor. A lição para hoje é de que, neste tempo de relativa paz, a igreja de Deus é desafiada a viver de acordo com a luz da verdade presente e, assim, acelerar o término da obra de Deus e a consumação do destino glorioso do povo remanescente".

Este resumo foi compilado a partir dos comentários do Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 2, p. 346.

Para o amigo Renan.

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