sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ezequiel 28 comentado

Comentário devocional:

Aqui Ezequiel anuncia a desgraça do príncipe de Tiro. A maior parte deste lamento faz sentido se aplicado ao real governante humano de Tiro. Entretanto, alguns detalhes não fazem sentido. Esteve o governante terreno, alguma vez, no Éden, enfeitado com jóias como um querubim cobridor? Na verdade não, mas na adoração que ocorria no templo de Tiro o príncipe terreno talvez assumisse esse papel. Esteve ele, alguma vez, no santo monte de Deus? Não literalmente. Mas os pagãos consideravam seus santuários como montanhas divinas. O príncipe humano de Tiro tinha sido perfeito no dia de sua criação? Certamente não, mas essa pode ter sido a sua pretensão, abrindo espaço para Ezequiel empregar tais declarações de ironia.

Uma coisa é certa, o fato do príncipe ter assumido o papel de uma divindade no culto da cidade indica que este governante representa muito mais do que somente a si mesmo. Vemos aqui representado em escala humana algo de dimensões cósmicas. Nós não queremos basear a doutrina da queda dos anjos celestes apenas neste capítulo, mas o que é dito aqui ilumina o assunto que é abordado em outros lugares da Bíblia.

A própria essência da queda no pecado é o fato da criatura pretender possuir as prerrogativas do Criador, seja essa criatura angelical ou humana. Nenhum de nós consegue escapar dessa tentação, por mais ridícula que essa pretensão seja. 

No entanto, aquele que é Deus não procurou a exaltação própria. Em vez disso, Ele "esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!"(Filipenses 2:7, 8. NVI).

Ele é a nossa salvação e nosso modelo de ser.

Ross Cole
Avondale College, Austrália


Texto original: http://revivedbyhisword.org/en/bible/eze/28/

Traduzido por JDS/JAQ

Texto bíblico: Ezequiel 28 

Comentário em áudio 





Comentários selecionados:

2 príncipe. Do heb nagid, “um chefe”, “um líder”. Segundo Josefo, o rei tírio na época do cerco de Nabucodonosor era Etbaal (Contra Apion, i.21). Contudo, o profeta, sem dúvida, está censurando a insolência e o orgulho desmesurado dos líderes de Tiro em geral. CBASD, vol. 4, p. 741.

eu sou Deus. Etbaal de Tiro é uma representação de orgulho sem limites do seu povo, por dominar os mares a partir de uma fortaleza considerada inexpugnável. Bíblia Shedd.

3 mais sábio que Daniel. Isto é uma ironia. ... O rei de Tiro é comparado a ele, provavelmente, por causa de sua satisfação própria e de seu senso de superioridade. CBASD, vol. 4, p. 741.

10 Da morte de incircuncisos morrerás. Segundo Heródoto (ii.104), os fenícios praticavam a circuncisão. Como os judeus, eles considerariam os incircuncisos um desdém. CBASD, vol. 4, p. 741.

12-19 rei de Tiro. Os v. 11 a 19, embora apresentados como um hino fúnebre ao rei de Tiro, dificilmente podem ter sua aplicação limitada a esse príncipe. As figuras usadas vão além da referência local; ... Ao considerar o caráter e as atividades do rei literal de Tiro em visão, Ezequiel viu mais longe, por revelação divina, e enxergou o ser invisível mais poderoso a quem o rei de Tiro servia. Da mesma forma, foi permitido que Isaías enxergasse além do rei literal de Babilônia (Is 14:4) e visse Satanás, cujo caráter e política era reproduzidos por aquele rei (v. 12-16). ... Foi o Espírito Santo quem planejou e unificou as Escrituras, e foi Ele que providenciou que fossem dadas informações suficientes sobre todos os assuntos essenciais, inclusive a história de Satanás. Além disso, foi Ele quem determinou quando, como e por meio de quem devia ser dada a revelação. A ocasião envolvida na passagem em questão era especialmente apropriada, uma vez que o príncipe de Tiro havia imitado de maneira tão notável o exemplo de seu verdadeiro líder, o diabo. À luz do grande conflito, a nação de Tiro, juntamente com todas as nações pagãs, era controlada pelos princípios desse grande líder rebelde, e a influência dele na história dessas nações precisava ser devidamente exposta (para mais informações sobre a origem e o destino de Satanás, ver PP, 33-43; GC, 492-504). CBASD, vol. 4, p. 742.

A linguagem desta seção não é mais aplicável a um governante terreno. O foco muda para o reino cósmico, enfatizando o ser sobrenatural por trás das cenas, o mentor angélico do seu representante humano no trono terrestre. Esta passagem descreve a origem cósmica do pecado e da rebelião contra Deus (vv. 15-17); é paralela a Is 14:12-14, onde o ser sobrenatural responsável pelo mal é chamado Lucifer, e a Apoc. 12:4,7-9, onde este ser após a sua queda é chamado Satanás ou o diabo. Esta seção central e culminante do livro de Ezequiel é arranjada num padrão simétrico (quiástico):

A. Condição antes da expulsão (vv. 12b-13)
   B. “Querubim da guarda ungidor” (v. 14)
      C. “Te estabeleci” (v. 14)
         D. “No monte santo de Deus” (v. 14)
            E. “No brilho das pedras andava” (v. 14)
               F. “Perfeito eras nos teus caminhos” (v. 15)
               F’. ”Se achou iniquidade em você” ... “pecaste” (v. 15)
            E’. “Em meio ao brilho das pedras” (v. 16)
         D’. “Fora do monte de Deus” (v. 16)
      C’. “Te farei perecer” (v. 16)
   B’. “Querubim da guarda” (v. 16)
A’. “Condição após a expulsão” (vv. 17-19). Andrews Study Bible.

Sinete da perfeição. A ACF traduz a frase como: “Tu eras o selo da medida.” A palavra traduzida como “perfeição” ocorre somente aqui e em Ezequiel 443:10, em que é traduzida como “modelo”. O significado geral é claro. Lúcifer foi revestido de sabedoria, glória e beleza, acima de todos os outros anjos CBASD, vol. 4, p. 742.

13 Éden. Não o Éden terreno, mas o “jardim de Deus” celestial, no santo monte (v. 14). Andrews Study Bible.
O lugar da habitação de Deus (ver PP, 35). CBASD, vol. 4, p. 742.

Todas as pedras preciosas. As pedras mencionadas aqui se encontram também na lista de pedras preciosas que se encontravam no peitoral do sumo sacerdote (Êx 28.17-20; 39:8-14). ... A enumeração dessas várias joias enfatiza a exaltada posição do anjo mais honrado no Céu. CBASD, vol. 4, p. 742.

Foste criado. Por se tratar de um ser criado, Lúcifer era distintamente inferior ao Pai e ao Filho, em quem havia vida original, não emprestada, não derivada. Contudo, foi com o Filho que Lúcifer reivindicou igualdade. Quando Deus disse ao Filho: “Façamos o homem à Nossa imagem”, Satanás teve ciúmes de Jesus (ver PE, 145). Desejava ser consultado na formação do homem. Ao aspirar assim, ao poder que era prerrogativa apenas do criador exercer, caiu de sua exaltada posição e se tornou o diabo. É incorreto dizer que Deus criou o diabo. Deus criou um belo anjo, santo e imaculado, mas esse anjo fez de si mesmo um diabo. CBASD, vol. 4, p. 742, 743.

14 querubim da guarda ungido. Um ser não humano, mas sobrenatural, um anjo que guardava o trono (no Lugar Santíssimo do Santuário). Andrews Study Bible.
A posição original de Satanás é ilustrada pelos querubins que cobriam o propiciatório no templo hebraico. Lúcifer, o querubim cobridor, estava à luz da presença divina. Era o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao universo os desígnios divinos (ver DTN, 758). CBASD, vol. 4, p. 743.
Na sua soberba, o rei de Tiro é semelhante àquele anjo que era revestido de glória, mas caiu até as profundezas por causa da sua soberba; descreve bem a origem e a natureza de Satanás. Os ornamentos são a glória sacerdotal. Bíblia Shedd.

Monte santo. O termo representa aqui a sede do governo de Deus, o próprio Céu, que é figurativamente representado como um monte (ver com de Sl 48:2). CBASD, vol. 4, p. 743.

15 até que se achou iniquidade. Literalmente, “injustiça”. Aparentemente este querubim abrigou em seu coração a falsa crença de que Deus era injusto. Andrews Study Bible.

16 comércio. No contexto cósmico, o sentido “difamação” se ajusta melhor: o querubim da guarda difamou a Deus ao acusá-Lo de injustiça. Andrews Study Bible.
A imagem é extraída do comércio de Tiro, mas a figura do rei de Tiro não se perde. A obra de Lúcifer em disseminar a rebelião no Céu é comparada ao comércio ganancioso d, muitas vezes, desonesto de Tiro. CBASD, vol. 4, p. 743.

Violência. A difamação cresceu ao ponto de se tornar violenta rebelião (como descrito em Apoc 12:7-8) Andrews Study Bible.

Te farei perecer. Literalmente, “[tratar como] profano”, no sentido de “expulsar, expelir”(Apoc 12:9). Andrews Study Bible.

17 elevou-se o teu coração. O querubim se tornou orgulhoso de sua beleza e sabedoria (ver Is 14:13-14). Andrews Study Bible.

corrompeste a tua sabedoria. O poder, a riqueza e a sabedoria perdem seu valor quando se misturam com a soberba; é como uma tomada elétrica desligada da força. Até mesmo um arcanjo que se desligue do contato amoroso de Deus nada mais faz com seus poderes sobrenaturais senão arruinar os homens e decretar sua própria e eterna destruição (AP. 20.10). Bíblia Shedd.

18 comércio. Após sua expulsão para a terra, ele continua sua difamação (comércio de palavras difamatórias). Andrews Study Bible.

Teus santuários. Muitos manuscritos hebraicos e algumas versões dizem “Teu santuário”. A óbvia referência é ao próprio lugar santo do Céu, que foi contaminado pela entrada do pecado. CBASD, vol. 4, p. 743.

E te reduzi a cinzas. A destruição de Satanás é ilustrada com a figura da eliminação de Tiro e de seu rei pelo fogo. Na verdade, a aniquilação do instigador do mal será pelo fogo que, no último dia, removerá todo o vestígio de pecado e purificará a Terra para futura habitação dos justos (Ap 20:14, 15; 21:1). CBASD, vol. 4, p. 743.

19 espantados. Precisa-se considerar que isto é uma figura. Satanás vai sofrer por longo tempo no lago de fogo depois de todos os outros pecadores já terem morrido (ver PE, 294, 295). Os justos, dentro da cidade, irão testemunhar a ação do fogo renovador. CBASD, vol. 4, p. 743.

Jamais subsistirás [NVI: você não mais existirá]. Esta declaração proporciona a certeza de que o pecado, uma vez erradicado, nunca mais maculará o universo de Deus (ver Na 1:9). Ao permitir que a rebelião amadurecesse plenamente, Deus garantiu o futuro. Os habitantes do vasto universo de Deus terão desenvolvido uma imunidade contra o mal que os tornará seguros contra qualquer transgressão futura. Os resultados da apostasia contra o governo de Deus já serão plenamente conhecidos. Todos estarão convencidos da justiça, benevolência e sabedoria do caráter de Deus. Nunca o pecado perturbará a perfeita harmonia que vai permear a Terra recriada por Deus. CBASD, vol. 4, p. 743.

21 Sidom. Uma cidade fenícia situada cerca de 40 km ao norte de Tiro. Andrews Study Bible.
Normalmente mencionada juntamente com Tiro; era uma cidade gêmea de Tiro, e lhe era súdita, naquela época. Bíblia Shedd.

22. glorificado. Isto é, vindicado. Andrews Study Bible.

23 pela espada. Depois do cerco de Nabucodonosor e da vitória parcial sobre Tiro, Sidom se tornou a principal cidade-estado fenícia. Mais tarde, Cambises colocou a cidade sob domínio persa (c. 526 a.C.). Uma revolta em 351 a.C. levou à destruição da cidade. Mais tarde, Sidom se rendeu a Alexandre e, posteriormente foi dominada por Roma. CBASD, vol. 4, p. 743, 744.

24 espinho que a pique. Uma figura provavelmente tomada de Números 33:55, aplicada alia aos cananeus em geral. CBASD, vol. 4, p. 744.
Sidom não era um espinho no sentido de ser uma ameaça bélica no lado do território dos israelitas, mas sim por ser um centro do paganismo organizado, cujos pensamentos nunca cessaram de influenciar os israelitas. Nisto se descobre porque Deus tinha ordenado aos israelitas extirpar qualquer sinal de paganismo, logo ao entrar em Canaã. (Dt 7.1-5). Bíblia Shedd.
A destruição de Sidom eliminou o último dos vizinhos inimigos de Israel, chamados “espinhos que piquem” e “abrolhos dolorosos” (Num 33.55) portando consistindo-se em uma mensagem implícita para Israel. Andrews Study Bible.

26 edificarão casas. Ver Is 65:9, 10; Jr 30:18; 32:41. Isto ilustra a condição ideal que Deus planejou para o Israel restaurado. Se tivesse cumprido os planos divinos, o povo de Deus teria habitado em segurança nas casas que eles próprios construiriam e teria comido livremente das vinhas que eles próprios plantariam. Contudo, nem mesmo a severa disciplina do cativeiro conseguiu efetuar a regeneração espiritual necessária para garantir o cumprimento da promessa divina. CBASD, vol. 4, p. 744.

Para mais informações a respeito da origem do mal, ver: Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 9 (Tratado de Teologia), cap. 7, Pecado, e cap. 28, O Grande Conflito.

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